quinta-feira, 28 de abril de 2011


Sonhos que se consomem a vazios repletos de vontades. Vazios presos a querer, a prazer e falta de coragem.
Vazios que sobrevivem atraves de mentiras. Só de mentiras.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

As rendeiras de Canaan

A história de duas mulheres, mãe e filha. Rendeiras, artistas, que usam a arte da renda como forma de sobrevivência e terapia

Um trabalho produzido na disciplina de Projeto Experimental em Jornalismo Impresso

A história – No município de Trairi fica o distrito de Canaan , que está há 150 km de Fortaleza. A economia da cidade é basicamente da agricultura, pecuária, pesca e artesanato. A cidade concentra um grande número de rendeiras, profissão essa passada de pai para filho que ajuda na sobrevivência de suas famílias. A vida, como em grande parte do Brasil é difícil, principalmente para pessoas que trabalham com agricultura, como também, para aqueles que fazem renda.
Apesar das dificuldades que as rendeiras encontram na venda de suas peças ocasionado pelos baixos preços, elas continuam a praticar essa arte que sobrevive há milhares de anos por ser passada de geração para geração, como é o caso da senhora Maria Novinha Farias da Silva (1955) e sua filha Ana Maria da Silva(1972), ambas rendeiras.
O encontro - Nos encontramos no dia 19 de março de 2011. Era uma tarde quente, a cidade estava em festa, com muita música, orações e barracas com roupas e brinquedos. Nos dirigimos até a casa da senhora Novinha, já que, também além de rendeira ela ajuda o marido na produção de farinha. Sua casa é de difícil acesso, com estrada de barro, buracos e longe do centro da cidade de Canaan. Chegando lá, fomos bem acolhidos por ela e sua filha, a Ana Maria que logo já foi nos explicando sobre a renda na cidade.



Ana Maria da Silva (1972-)

Moça de traços fortes, baixa, olhos arregalados e muito simpática, Ana nos contou um pouco de sua história e a sua participação na associação de rendeiras na cidade de Canaan, a ARTECAN.
Segundo Maria, para se fazer renda é preciso muita paciência além de saber manusear o bilro, uma fruta típica da região que é acoplada a uma semente de buriti.
Ana Maria começou a fazer renda com dez anos de idade, sua mãe quem lhe ensinou. A moça relata também que fazia renda por necessidade: “Eu não tinha roupa. Fazia renda para mim mesma. Fazia saia, top, blusa. Naquela época a gente tinha muita necessidade”, relatou a rendeira. Ela tem três filhas de 15, 16 e 17 anos, e todas sabem fazer renda. Para ela é preciso passar de mãe para filha e não deixar a renda acabar: “Ensinei minhas filhas a fazerem renda. Os jovens de hoje não ligam para isso. É a nossa cultura”, disse Maria.
Para terminar uma peça é preciso 15 dias trabalhando 4 horas diariamente. É um trabalho cansativo, que precisa de agilidade, vontade e paciência. O lucro que as rendeiras ganham é pouco, já que elas custeiam o material, - Isso quando não há um projeto da associação para divulgar o trabalho delas. Sendo assim, a prefeitura, e patrocinadores pagam as despesas do material. Existem vários tipos de renda com vários tipos de linha. Uma delas é a linha matizada, de uma só cor; Também a renda fina, de número 20, que, segundo Maria, é a mais trabalhosa pelo fato da linha ser muito sensível e fina. (Foto à direita)



As rendeiras de Canaan participam de encontros em outras cidade, um desses projetos foi o Projeto São José, onde as rendeiras mostraram seus trabalhos em Fortaleza no Centro de Convenções. Com o aparecimento da Associação, através de uma iniciativa da Cientista Política Rosa de Lima Cunha, as rendeiras obtiveram maiores chances no mercado, além de unificarem suas forças para construir a ARTECAN (Associação de Artesãs e Agricultores de Canaan) que possui mais de 450 rendeiras do distrito trabalhando juntas. Ana Maria nos conta que o bordado fora esquecido pelas rendeiras “atuais”, mas, com a chegada da associação ele voltou com todo gás, através de aulas ministradas pelo SEBRAE.

A produção das rendas é feita através da escolha do mercado. São feitas saias, blusas, tops e saídas de banho. Produtos que foram produzidos para suprir as necessidades do comércio.
Segundo Ana Maria, o mercado paga pouco, mas ela gosta do que faz: “Eu olhava a minha mãe fazer e quis aprender. Era uma ocupação, passava o dia ali... aprendendo. Apesar do lucro ser pouco, eu tenho prazer de fazer renda. É bom demais!”, exclama a rendeira de 38 anos com um sorriso.

Fachada da (Associação de Artesãs e Agricultores de Canaan), ARTECAN


Maria Novinha Farias da Silva (1955-)

Mãe de cinco mulheres e três homens, a senhora de fala mansa, Dona Novinha, como a costumam chamar nos diz que sempre teve o prazer de ensinar as filhas na renda, trabalhar na agricultura e de ser responsável em tudo que faz. Dona Novinha aprendeu a fazer renda com a sua mãe, aos seis anos de idade e nos diz que a sua mãe sempre dizia: “Tudo o que eu tenho é a custa da renda” ; -“Hoje eu não consigo ganhar o que a minha mãe ganhava, a renda perdeu muito o seu valor”, relatou a rendeira de 56 anos.
Todas as suas filhas aprenderam com ela a fazer renda: “Minhas filhas aprenderam renda comigo, eu tive o prazer de ensinar. Elas sentavam do meu lado e tentavam fazer alguma coisa. Tinha a hora pra brincar quando elas eram crianças, mas quando já estavam grandes era preciso trabalhar”, relata Maria Novinha.
Para ela muitas pessoas deixaram de fazer renda, culpa dos preços baixos que as pessoas cobram pelo trabalho árduo. “Poucas pessoas ainda fazem renda, diferente de antigamente, onde todo mundo trabalhava na renda. É barato demais.”. Relatou Maria.
Dona Novinha é uma senhora que sorri bastante e sempre disposta a nos explicar sobre quaisquer duvidas. Apesar de tantas dificuldades, as rendeiras, agricultores, pescadores, sempre possuem grandes histórias que podem valorizar ainda mais a magnitude de se viver. Pessoas humildes, de bom coração, trabalhadores e honestos. Rendeiras que fazem de sua arte uma história de vida para muitos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Andando na cidade e embelezando o mundo!


O Blog Fato apresenta a trajetória da Manicure Maria Jorcilene da Silva Pereira, a Joice, manicure que semeia dignidade e está de bem com a vida. Aos 41 anos, mãe solteira e trabalhadora, percorre vários bairros trabalhando como manicure, mas que não deixa ser vencida pelas dificuldades, acreditando sempre em Deus e na sua perseverança

Almir Moreira
Da Editoria Personagens

Ela acorda todos os dias às seis horas da manhã, percorre os bairros Água Fria, Cidade dos Funcionários, Edson Queiroz e já chegou até a ir em Messejana, voltando às oito horas da noite para casa. Joice, como a chamam, trabalha há 27 anos como manicure, depiladora e atende suas clientes nas suas próprias residências.

Para chegar até seus locais de trabalho no começo, a manicure trabalhava a pé, e brinca: “Eu ia a pé para as casas e ainda de sombrinha, que chique”. Agora Joice usa uma segunda bicicleta Caloi, paga em prestações, já que primeira que tinha fora roubada quando estava trabalhando. A dificuldade de Joice em andar de bicicleta são os motoristas e os ladrões: “O ladrão é porque já me roubaram, os motoristas é porque não respeitam as pessoas que estão na bicicleta, às vezes eu me pergunto: Valha-me Deus! Eu ainda estou ainda na terra?”

Autonomia - Uma mulher de traços fortes, morena, de olhos arregalados e muito religiosa. Joice sorri bastante e sempre está de bom humor. Para ela o trabalho é uma terapia. No começo da carreira, trabalhava em salões de beleza, e ri quando diz que não aguentava nem um mês nos salões. Era um trabalho árduo, existia falsidade, e ganhava pouco já que dividia o dinheiro com o dono do salão: “Hoje eu trabalho pra mim. Vou ao Centro, compro os esmaltes bem baratinhos e não divido o meu dinheiro com ninguém, ganho 12 reais, pé e mão, é uma benção”, relata a manicure, que agradece a Deus pela possibilidade de trabalhar.

Joice tem um filho de 10 anos, do seu primeiro namoro. O pai, segundo Joice, sempre foi ausente e não ajuda no sustento do filho: “Eu trabalho para sustentar meu filho e para ajudar meus pais. Eles que cuidam do Gabriel enquanto eu trabalho”. Além de Gabriel, Joice mora com uma irmã, um irmão, o pai e a mãe em uma casa de dois cômodos.


Histórias- Nos finais de semana, a jovem frequenta cultos religiosos com o filho, apesar de trabalhar aos sábados à tarde, deixando poucos dias para descansar e sair com o Gabriel. Por trabalhar em muitas casas, Joice também conhece muitas histórias, uma delas, a mais triste, foi a de três irmãs, onde duas delas, suas freguesas, morreram de câncer decorrido do uso de cigarro: “Eu tinha três freguesas, uma delas morava aqui em Fortaleza, as outras duas passavam férias na casa da irmã e me chamavam para fazer suas unhas. Conversando com a irmã mais velha, a Lúcia, de 60 anos, descobri que a “Lucinha” e a Luana morreram de câncer. Foi muito triste, as duas eram animadas, de bem com a vida, não sei por que isso aconteceu com elas. É o cigarro”, ressalta a manicure, com os olhos cheios de lágrimas e com ar de saudade.

Joice enfrenta o calor e o sol de Fortaleza. Em plena duas horas da tarde, ela percorre vários bairros em sua bicicleta antiga, com sua mochila, boné, óculos escuros, um blusão e muito protetor solar. Apesar de tantos problemas, a manicure é um exemplo a se seguir. Sorrindo sempre, Joice conquista suas clientes e sempre põe os papos em dia, conhece várias histórias e conta a sua vida difícil. Joice mora no Tancredo Neves e pretende sair de lá por conta das drogas e o medo do filho se envolver com más companhias.

Ela finaliza a entrevista rindo e diz: “Eu vou ser famosa Dona Tina, olha que chique”, relata a manicure, com um sorriso terminando o seu trabalho.